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23.6.10

Despedida


Parto para encontrar com o esquecer-te
Deixo-te todos os meus sonhos
Para que continues a escrever tua vida
Rasuro as palavras que não te disse
Calo os beijos que tanto te desejaram
Enganei-me, ludibriei-me, falseei-me
O tempo nada decidiu, nem definiu
Não quero mais qualquer porta aberta
E nem o meu caminho a te aguardar
Recolho os meus delírios e quimeras
As confissões tolas que te fiz
Entre sorrisos, disfarçando verdades
Calo-me porque meus lábios e mãos

Não mais te redimem de teus temores
Ou te resgatam de ti mesmo
Em meio as tuas indecisões e escusas
Foste adiando o conjugar do meu amor
No tempo presente que a ti se oferecia
Amor que te pronunciava em meus versos
Declarando anseios e desejos insones
Imaginavas que eram meus poemas
Os silêncios das minhas fantasias
Libertos da asfixia das minhas mãos

A saudade invasora e condescendente
Ainda busca um motivo para permanecer
A memória da ilusão declama teu último poema
E fantasia-me em tuas linhas e letras
Como se eu fosse a que toca tua inspiração
As mãos teimam em acariciar os teus gestos
E as palavras que foram sussurradas
Nos sonhos do meu corpo que te embalava
Quando apenas a lua sabia de mim
E ruborizava, adivinhando intenções

Toco os meus lábios e neles já não sorris
Há um gosto de despedida em meus olhos
No meu lamento nem mesmo a lágrima
Acaricia a solidão do meu rosto
Soluça em minhas mãos o gesto
Que confinaste no cárcere do talvez
Apenas isto e tudo que não houve
Como a me confirmar que sempre foste
Uma irônica possibilidade de felicidade
Paralela do infinito em meu destino.

Fernanda Guimarães
Brasil