Um corvo de remota idade e fatigado brilho
vem morrer à beira-mar.
Aguarda atento
que a luz propícia desça no horizonte
para entregar-lhe a força derradeira
numa surtida de acerada angústia.
Descaem-lhe do dorso opaco e magro
as digitais membranas:
acumulam detritos de excremento branco.
Sobe-lhe à tona o olhar antes profundo
a vomitar o fluido da ansiedade.
Projecta-se disperso à contra-luz.
Reduz-lhe o contorno ardendo ao sol poente.
Entra no sonho às cegas ganha altura
e tomba leve e negro no areal fictício.
Breves segundos mais
para que o vento alcance a história curta.
Depois renasce em escamas de carvão.
Ruy Duarte de Carvalho
Angola