Sou eu. Sabes quem sou?
Não, não digas nada.
Sei apenas que estou
Acabrunhada.
E se inclino o rosto,
se pareço uma pirâmide truncada
com sobrecasaca de frio,
é porque não gosto
de puxar o fio
à meada.
(Escadas escuras
subidas dia a dia.
Pernas cansadas
e solas gastas.
Harmonias acabadas
num gesto torvo.
Tremenda nostalgia
de iluminações vastas
e de calçado novo).
Pernas cansadas? Sim.
Magras? Talvez.
Aqui, onde me vês,
já fui assim
... roliça,
como bocejo na hora da preguiça...
Aqui, onde me vês,
não é a mim que me vês,
É a magricela
que sobe aquela
escada de sonhos desiguais
que me constrangem.
_E ainda para mais
os meus sapatos rangem
Fernanda Botelho