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30.1.11

Acordar tarde


tocas as flores murchas que alguém te ofereceu
quando o rio parou de correr e a noite
foi tão luminosa quanto a mota que falhou
a curva – e o serviço postal não funcionou
no dia seguinte

procuras ávido aquilo que o mar não devorou
e passas a língua na cola dos selos lambidos
por assassinos – e a tua mão segurando a faca
cujo gume possui a fatalidade do sangue contaminado
dos amantes ocasionais – nada a fazer

irás sozinho vida dentro
os braços estendidos como se entrasses na água
o corpo num arco de pedra tenso simulando
a casa
onde me abrigo do mortal brilho do meio-dia

Al Berto

28.1.11

A arte de ser amada


Eu sou líquida mas recolhida
no íntimo estanho de uma jarra
e em tua boca um clavicórdio
quer recordar-me que sou ária

aérea vária porém sentada
perfil que os flamingos voaram.
Pelos canteiros eu conto os gerânios
de uns tantos anos que nos separam.

Teu amor de planta submarina
procura um húmido lugar.
Sabiamente preencho a piscina
que te dê o hábito de afogar.

Do que não viste a minha idade
te inquieta como a ciência
do mundo ser muito velho
três vezes por mim rodeado
sem saber da tua existência.

Pensas-me a ilha e me sitias
de violinos por todos os lados
e em tua pele o que eu respiro
é um ar de frutos sossegados.

Natália Correia

Um revoltado adormeceu



Um revoltado adormeceu
na praia
e o mar
acalmou

Joaquim Falé
Moçambique

A eternidade em que nos pertencemos


Teus beijos ainda despertam em meus lábios
Enquanto o sol escreve a história deste amanhecer
E todas as cores deixam-se colorir no arrebol
A beleza do alvorecer rima em perfeita harmonia
Com a poesia que compuseste em meu olhar
Quando o amor me ofereceu a ti
Rebrilhando o lume da minha entrega
Teu sorriso suspenso ainda acolhe o meu despertar
E me olhas como se desejasses fotografar
Cada gesto com que revelaste o meu corpo
Abrigado em sensações e emoções, pleno de ti
A saudade agora também me presenteia a ti
Enquanto a paisagem do real oculta-se do meu olhar
E nega a tua ausência, recompondo momentos
Volta-se a vida aos lugares que nos presenciaram
Teus olhos pedintes, ressuscitados em mim
A poesia do nosso encontro continua sendo declamada
Rimando os nossos sonhos, aclamando os nossos desejos
Desnudada pelas mais doces e sublimes lembranças
Porque foi na primavera das tuas mãos
Abertas em pétalas de carícias
Que me vicejaste com a fragrância do teu amor
Ainda me é nítido o suspirar do nosso último amanhecer
Quando entregamos todas as palavras ao silêncio
Cúmplices do inconfessável, debruçados em nossa geografia
Estrangeiros de qualquer outro mundo
Encerrados pelos gestos que nos esperavam
Unidos pela eternidade de nos pertencermos...

Fernanda Guimarães
Brasil

27.1.11

Agora mesmo



Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
Está gente a morrer e nós também

Está gente a despedir-se sem saber que para
Sempre
Este som já passou Este gesto também
Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante
Tu próprio te despedes de ti próprio
Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
Já estás diferente neste verso e vais com ele

Os amantes agarram-se desesperadamente
Eis como se beijam e mordem e por vezes choram
Mais do que ninguém eles sabem que estão a
[despedir-se

A Terra gira e nós também A Terra morre e nós
Também
Não é possível parar o turbilhão
Há um ciclone invisível em cada instante
Os pássaros voam sobre a própria despedida
As folhas vão-se e nós
Também
Não é vento É movimento fluir do tempo amor e morte
Agora mesmo e para todo o sempre
Amen


Manuel Alegre

26.1.11

Psicoalteração do Rato



rói o rato a roupa
na corda ao fim da rua
e arrota

num ror de razão o rato
rouba arroz ao porto do povo
e roto troca o troco
por trigo trancando-se atrás
do rasto raro e fica rico o rato
e por um triz não é trazido
de rastos pela rua a trote
mas chega ao trono e trás!
Rato sem roldana trás!... catrapuz!
Sem ruga roga a quem ri
rato rói rato até à raiz

mais radical a ratazana tradicional
num golpe de rins reluz ao raiar
de um enorme sol de luz
e ao farejar o rumorejar do país
corre pr'o Rand
pela ração sem retalhos
e quando regressa rola ruela
à risca e acende o rastilho
e não se rala por quem se roa

o rato resignado recolhe a rede
e rema rompendo as rugas
do mar sem rumo
e aí sem renitência reina
sem rusga nem ratoeira
e não se rala o rato roedor
rói até rédea
rato recto faz do rito revolução

Guita Júnior (Guita Jr.)
Moçambique

25.1.11

Canto de nascimento


Aceso está o fogo
prontas as mãos

o dia parou a sua lenta marcha
de mergulhar na noite.

As mãos criam na água
uma pele nova

panos brancos
uma panela a ferver
mais a faca de cortar

Uma dor fina
a marcar os intervalos de tempo
vinte cabaças de leite
que o vento trabalha manteiga

a lua pousada na pedra de afiar

Uma mulher oferece à noite
o silêncio aberto
de um grito
sem som nem gesto
apenas o silêncio aberto assim ao grito
solto ao intervalo das lágrimas

As velhas desfiam uma lenta memória
que acende a noite de palavras
depois aquecem as mãos de semear fogueiras

Uma mulher arde
no fogo de uma dor fria
igual a todas as dores
maior que todas as dores.
Esta mulher arde
no meio da noite perdida
colhendo o rio

enquanto as crianças dormem
seus pequenos sonhos de leite.

Ana Paula RibeiroTavares
Angola

Silepses


Ajustadas ao comprido as ripas
esfarelando-se devagarinho
por entre minuciosos
dedilhos de terra.

E
em melancólicas silepses
conspícuas gralhas versejam
extemporâneas férias
da Maria.
José Craveirinha
Moçambique

24.1.11

Sempre um de nós



Sempre um de nós
foge. Sombria água
trépida e contínua
água em céu diverso
como diversa eu sou
chão sem flor.

Vã palavra, múltipla
palavra, longínqua
semente entre o arco
e a corda. Nada sara
em meu cego corpo
eu que imagem sou,
não alegoria.

Tremor antigo, árvore
sem fruto, nada resiste
nesta cidade sem casa
- só a garça chega em seu
liso voo porque o tempo
nunca é longo.

Ana Marques Gastão

23.1.11

Villa Dei Misteri


Tiro os óculos e recua o mundo:
torno à mais árdua intimidade.
Diónisos ou Penteus, antes do sangue
pesa já a vinha sobre as colinas
de Outubro.

As bodas místicas
do deus e da noviça, meu destino
branco, minha face nocturna,
não os preserva a ciência
dos três livros, nem figurariam,

por certo, na cinza dos restantes.
Sei, entre névoas e azul, de uma
biblioteca deserta, cujas estantes,
por desnudas, não enjeitam
a mais discreta sabedoria.

Em sua transparência se inscrevem,
como a luz à luz se sobrepõe.
Trago na pele e nos olhos,
sobre a língua e o palato,
a memória escaldante

de uma mulher.
Devora-me
um álcool lento e sedicioso.
De todas as mortes sofridas,
só esta temo e não desejo.

Rui Knopfli
Moçambique

21.1.11

Não cortem o cordão


Não cortem o cordão que liga o corpo á criança do sonho
O cordão astral à criança aldebarã, não cortem
O sangue, o ouro. A raiz da floração
Coalhada com o laço
No centro das madeiras
Negras. A criança do retrato
Revelada lenta às luzes de quando
Se dorme. Como já pensa, como tem unhas de mármore.
Não talhem a placenta por onde o fôlego
do mundo lhe ascende à cabeça.
A veia que a à morte.
Não lhe arranquem o bloco de água abraçada aonde chega
Braço a braço. Sufoca.
Não limpem o sal na boca. Esse objecto asteróide,
Não o removam.
A árvore de alabastro que as ribeiras
Frisam, deixem-na rasgar-se:
Das entranhas, entre duas crianças, a que era viva
E a criança do sopro, suba
Tanta opulência. O trabalho confuso:
Que seja brilhante a púrpura
Fieiras de enxofre, ramais de quartzo, flúor agreste nas bolsas
Pulmonares. Deixem que se espalhem as redes
Da respiração desde o caos materno ao sonho da criança
Exacerbada.
Única

Herberto Helder

19.1.11

O mundo recriado a partir dos olhos dum mulher




Sou a palavra que você não disse
o nome que você não chamou.
Contigo viverei palavras desiguais
palavras ardidas na língua que as prolonga;
palavras perdidas e procuradas
onde tentas o sonho
(não há mais nada para sonhar?)
Sou a palavra que você não disse
uma canção ao maravilhoso.
As páginas perseguem-me e
da retórica colhes os números;
mas os números não dizem nada
- são preocupações do pouco,
sem as contar sem as procurar.
Eu sei, nos teus olhos, mulher
se eleva o pensamento;
dos teus olhos, mulher
Deus recriará o mundo.
Assim fora o começo d'olhos pensados
nas mãos de Deus.

João Tala
Angola

18.1.11

Longa hora os olhos pai ou mãe



a morte explícito sujeito sentado no eixo
aberta zona meridional
abraço funda cegueira ao cantar o angulo solar
deposito as guelras do tempo frutos os soldados da rotação
talvez versos as ruas
abrindo o metal uma cidade o passado
de cada respirar geometrias ou idiomas (...) um telefonema
opera o golpe
vogais na redução sublimada esteira o tema seus dedos
hoje os lugares pronunciadas formas pronominais
os próprios olhares
abrem a passagem dos traços labiais longas horas
floresce na zona centretional
com imediatos acentos no sul da vida

Abreu Paxe
Angola

17.1.11

Saudades de um ex-amor


construo sólidos castelos d’areia
que se destroem
no contacto
com a ímpia suavidade da onda.

… aspiração frustrada.

amor na concha de vento
no êxtase poético
na ondulante curva
da nossa união. na areia.

… amor na interrogação da onda.

minha lágrima:
néctar salgado
pérola de esperança
no mar adocicado.

… para quando o reencontro?

Conceição Cristóvão
Angola

13.1.11

Constelações


Usamos todos a ilusão
de fabricar a vida:
histórias, constelações
de sons e gestos

Usamos todos a suprema glória
do amor: por generosidade
ou fantasia, ou nada, que de anda se fazem
universos

Usamos todos mil chapéus de bicos
mal recortados e de encontro
ao sol:
o nosso mais perfeito em franja e bico
e um arremedo tal e seiscentista
que ofuscando-se: o sol

Usamos todos esta condição
de pó de vento, ou de rio
sem pé: único dom de fabricar o tempo
em raíz de palmeira
ou de cipreste

Ana Luísa Amaral

10.1.11

Sem que soubesses


Falei de ti com as palavras mais limpas,
viajei, sem que soubesses, no teu interior.
Fiz-me degrau para pisares, mesa para comeres,
tropeçavas em mim e eu era uma sombra
ali posta para não reparares em mim.

Andei pelas praças anunciando o teu nome,
chamei-te barco, flor, incêndio, madrugada.
Em tudo o mais usei da parcimónia
a que me forçava aquele ardor exclusivo.

Hoje os versos são para entenderes.
Reparto contigo um óleo inesgotável
que trouxe escondido aceso na minha lâmpada
brilhando, sem que soubesses, por tudo o que fazias.


Fernando Assis Pacheco


9.1.11

Amor



Escolhemos um incómodo estatuto,
meu amor: um pássaro incorrecto
(para poder voar) morrermos nele.
Mas gerámos alguns filhos eficazes,
ágeis, duradouros. Contemplando-os,
decorrem-nos tão céleres os dias,
nunca exactamente iguais,
nunca diferentes. É que
existe aquela máxima antiga
solidariamente jurada desde o início
de nossos compromissos:
Sê breve nas horas interiores,
mas por fora sê extenso, derramável
qual um rio. O fundamento do amor.

*

O amor visita o corpo,
o necessita. Lícito divaga
por sombrios lugares,
súbito rumorosos e a arder.
Romã, mentrastos - tantos cheiros
e sabores na docente,
digna espiral.
Tudo aberto em luz na câmara escura:
só porque dois mendigos alcançaram
uma migalha, seu
copo de vinho.
Amando. Ah, que intensos mil-
agres doces nos vêm do corpo.
Que incandescente aptidão.

*

Ora, não digam que não
basta o amor
para resgatar o tempo exausto.
Este acto minucioso,
esta sociedade
por que nos ficamos longamente
gratos e escorrendo.
Nem digam que o amor
é arbitrário:
ele elege e fere
doméstico
quem morre de ferir. Que sorte
(digam antes) esta esgrima, este estar
em tantas posições de gritar.

*

Eis contíguos estes corpos,
derramados. A mecânica exacta,
inflexível. As nuvens
encasteladas, prometendo a chuva.
É um limpo exercício, podem crer.
De que fonte o maná mana,
rescendente? Onde a séde da sede?
No corpo se instalam
gratas ocorrências a não
negligenciar; a nunca
renegar - a menos que os
castos dias se avizinhem (pobres coisas,
lentos animais insusceptíveis:
vede o que o tempo faz de nós!)

*

Tens duas mãos capazes de lutar.
Digo: redondamente.
Digo: pelo tacto. Ah,
que guerra honesta podias conduzir
só pelas mãos
noutras mãos
guerreiras. Digo:
mãos com frutos. Há
guerra e guerra. Para bellum
com porções adequadas
do teu corpo. Si vis pacem,
preenchimento pacífico
do tempo. Digo: a
toda a largura do dia.

*

Agora o resto: imagina
corpo contra corpo,
não apenas as mãos, mas já também
a boca esguia, fugitiva,
regressada à boca.
A boca, a broca: a prudente
(intro) missão. Digo: a in(de)cisão.
A guerra em campo aberto.
Até que o suor. Eis o inimigo
liquidado e dado. Percorrido em guerra.
Digo: inguerra, acto
inverso de matar. Por
que esperas, pára a paz,
para bellum.


A. M. Pires Cabral

8.1.11

Inspirou-se tanto



Inspirou-se tanto
que a tinta saltou do frasco
e fugiu

Joaquim Falé
Moçambique

6.1.11

Quotidiano



Sou eu. Sabes quem sou?
Não, não digas nada.
Sei apenas que estou
Acabrunhada.
E se inclino o rosto,
se pareço uma pirâmide truncada
com sobrecasaca de frio,
é porque não gosto
de puxar o fio
à meada.

(Escadas escuras
subidas dia a dia.
Pernas cansadas
e solas gastas.
Harmonias acabadas
num gesto torvo.
Tremenda nostalgia
de iluminações vastas
e de calçado novo).

Pernas cansadas? Sim.
Magras? Talvez.
Aqui, onde me vês,
já fui assim
... roliça,
como bocejo na hora da preguiça...

Aqui, onde me vês,
não é a mim que me vês,
É a magricela
que sobe aquela
escada de sonhos desiguais
que me constrangem.

_E ainda para mais
os meus sapatos rangem

Fernanda Botelho

5.1.11

Já escondi um Amor com medo de perdê-lo,


Já escondi um Amor com medo de perdê-lo,

já perdi um Amor por escondê-lo. ...
Já expulsei pessoas que amava de minha vida,
já me arrependi por isso.

Já acreditei em amores perfeitos,
já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram,
já decepcionei pessoas que me amaram.

Já passei...horas na frente...
do espelho tentando descobrir quem sou,
já tive já tive tanta certeza de mim,
ao ponto de querer sumir...

Já fingi não dar importância às pessoas que amava,

para mais tarde chorar quieta em meu canto...
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena,
já deixei de acreditar nas que realmente valiam...

Já senti muita falta de alguém,mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar,
já calei quando deveria gritar...
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade...

Já chamei pessoas próximas de "amigo"
e descobri que não eram...
Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada
e sempre foram e serão especiais para mim.

Clarice Lispector
Brasil

Uma constante da vida




Errámos junto
à História: devíamos
pegar em foices e enxadas
e destruir mil campos
de pensar:
computadores, ogivas nucleares,
assentos petrolíferos e mais:
centrais de mil cisões
(e, já agora, aquele pequeníssimo
sonar)

Errámos pela
História: enquanto tempo,
devíamos pegar nas foices,
nas enxadas.
E nos anéis das fadas
plantar outras sementes: bombas
despoletadas, ferrugentas,
que dessem trigo e paz

Errámos nas histórias
de encantar:
um lobo freudiano, um capuchinho,
um osso pela grade
da prisão.
Voltaram as sereias
sentadas no olhar em devoção
(sem nunca terem nem sequer
partido)

(E seduz-nos ainda
esse cantar.)
Errámos sem saber
que o seu vagar é tal
que o sonho, cedo ou tarde,
se fará.
Que ao lado da cisão: a catedral
e ao lado do vitral: irracional
razão

A história junto
à História,
a enxada quebrada pelo chão


Ana Luísa Amaral

3.1.11

Secretas fórmulas


As vidas que me invento ao longo do papel
são tão de circo como esse
dinossauro
de que uma vez falei

A fórmula:
um segredo bem guardado.
Necessário trapézio, uma corda
esticada daqui até ali,
e rede ausente,
tal como ausente: a costumeira chama

(Mas o fundamental está no sapato:
curto e brilhante,
leveza de staccatto,
decorado com astros – e com escamas)

Ana Luísa Amaral

Na fome do beijo



No outro lado do mundo
tu
inteiramente ávida de prazer.
Gruta virgem esquecida nua
à luz da noite apagada
numa vertiginosa ânsia fria e crua.

Quando ao peito te aperto a sombra
de encontro ao meu esquecida
sinto os meus dedos que agarram o espaço
vazio
do teu corpo irrevelado.

Arrefecem-me os sentidos
porque te sinto eternamente morta
na distância inalcançável
do limite do tempo.

Fora de ti existes tu
e o mundo
e a esplêndida violência do teu cio
por nascer.
O teu regaço, quando quer, destrói o poema
e a luz do beijo inocente e puro
e o hálito
e o perfume da alma no primeiro sorriso.

As estrelas testemunham a minha loucura…
Na carne e no tempo que perdi
as mãos sustêm a fome
e dormem no silêncio da fonte
que lateja de prazer.

Álvaro Giesta

2.1.11

Terror de Te Amar


Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.

Sophia de Mello Breyner Andresen