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2.3.11

Não posso adiar por mais tempo o meu grito.



Não posso adiar por mais tempo o meu grito.

Deixem-me gritar.
Deixem-me estas amarras romper.
Não me roubem o meu grito
nem a possibilidade de gritar
e dizer.

Não posso adiar por mais tempo este grito.
Adiá-lo para outro século que não este
era roubar a mim mesmo
a possibilidade de viver.

Não adio mais o meu grito.
Como não adio também o amor.
Como não adiei também
- quando a perdi -
a vontade de chorar por minha mãe.

Deixem-me chorar.
Porque muitas vezes o meu choro
é a minha forma mais pura e mais nobre
de gritar.

Já não adio mais a vontade reprimida e solitária.
Por mares e desertos longínquos
e distantes
farei o meu grito de revolta
ecoar.

Acabem-se as mordaças da vontade
a neblina nos horizontes
as fronteiras, a injustiça.
Vertam a verdade duma vez por todas
as fontes da justiça.

Não posso adiar por mais tempo o meu grito.
Não posso!
Não me amordacem
que eu não me deixo por ninguém amordaçar.
Deixem-me só mas com a minha liberdade…
Não me impeçam de gritar.

Álvaro Giesta (pseud)