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10.5.10

Filhos da Miséria



Pedaços de fundo
vagabundo
buscando no lixo
um mundo perdido
fugindo de tudo
sábios esquecidos
nunca arrependidos

Vinde
ó ilustres da miséria
a nossa hora está chegando
recompensa merecida
estamos num canto
fechados
vingando o passado
somos o lixo
por este ou aquele motivo

Levantemo-nos Irmãos!
Derrotemos a Razão
vão-se desviar de nós
vão escutar bem alto a nossa voz
rosto aberto
de encontro aos mascarados
somos flores do Inferno
crescemos num deserto
açoitados pelo vento
noite e dia
enfeitiçados
pela morte desejados
somos cinzas
somos restos
despojos amordaçados
corremos mesmo parados
não fujimos quando somos olhados

Esquecidos pela esperança
vagueamos na escuridão
almas desertas
abraços de solidão
entre as pedras adormecemos
companheiros na ilusão
somos pássaros da noite
artistas com vida de cão

Não temos capas de vergonha
não disfarçamos o medo
sentimos o desespero
não trocamos de lugar
não nos podem dominar
já mortos nos hão-de lembrar
enquanto vivos
vão-nos evitar

Está-nos reservado o fel
sabemos porquê
pagamos o preço da liberdade
fugindo do tempo
não temos idade
amantes sedentos
conquistamos cidades

Brincamos como crianças
num jardim de terceira idade
fingimos ser apenas uma flor no paraíso
vingamo-nos da memória
bolsas vazias perdidas no Infinito

Vestimo-nos no escuro
de amor e desespero
saimos noite adentro
buscando alimento

Joaquim Falé
Moçambique