Vieram
levaram tudo
o sonho
a esperança
a vida
até a realidade varreram
e na azáfama da fuga
o vazio arrancaram
com medo que engendrasse
os genes da vida
a luz
e os seus gestos denunciassem
Eles...
os mestres do mundo
afogaram o sonho
enforcaram a esperança
apagaram a vida
com um sopro
um estalar de dedos
um sacudir de ombros altivo…
Senhores de todos os destinos
intocáveis
nas suas torres de cristal
roubadas ao suor alheio
vieram
levaram tudo
o riso
o pranto
o fôlego
até os rostos desfigurados pela dor
e na azáfama da fuga
os olhos arrancaram
para que não os vissem
e com o olhar os condenassem
Eles…
os mestres do mundo
prenderam o riso
amarraram o pranto
asfixiaram o fôlego
num gesto louco
de um estalar de chicote
o olhar altivo...
Deuses do universo
senhores de todos os destinos
decidindo a vida e a morte
vieram
levaram tudo
a dignidade
a modéstia
a honestidade
até o pensamento esvaziaram
e na azáfama da fuga
a consciência perderam
por não lhe suportarem o peso
Eles…
os mestres do mundo
violaram a dignidade
enterraram a modéstia
venderam a honestidade
num abrir e fechar de olhos
como num truque de magia
o semblante altivo…
Senhores absolutos
inverteram a escala de valores
à luz da própria imagem
vieram
levaram tudo
o pão da boca do faminto
o tecto do desabrigado
até a História apagaram
deixando apenas no seu rasto
humilhação
impotência
revolta
que o povo na dor afoga
por iguais armas não possuir
para combater tal violência
que de igual
só tem o ódio
fruto mudo
da fúria destrutiva!
Eles
os mestres do mundo
criminosos impunes
de consciência tranquila
barriga farta de ganância
o peito inchado de razão
da legitimidade usurpada
inconscientes da própria ignorância !!!
Filomena Embaló
Guiné
Guiné